sexta-feira, 25 de maio de 2012

RECOMEÇO


Da pequena sacada do andar superior de sua casa, Monique fazia sua terapia diária, observando o vem e vai das pessoas na calçada de pedras.

De lá, aninhada com os antebraços cruzados sobre o patamar de mármore branco, conversava animadamente com Silvia, vizinha de longa data. Estava de fato tão envolvida, que não notou a chegada do marido.


Rodrigo não podia acreditar. La estava ele, faminto, e a mulher na janela, conversando. Estava para chamá-la quando viu-a sorrir. Não sorriu para ele. Sorriu por algum motivo qualquer. Sorriu por algo na conversa. Mas naquele momento, os 12 anos de seu casamento sumiram. Naquele sorriso, reconheceu a menina de 18 anos, com quem casou. Lembrou-se de como era no começo. Lembrou-se do fogo.

Em silêncio pôs a pasta sobre o aparador. Tirou o terno, a gravata. Deixou-os sobre o espaldar da cadeira, e foi até ela.

Um chiado no chão porém, despertou a mulher. Ele sorriu. E com um aceno, impediu que interrompesse a conversa. Monique voltou o rosto à vizinha e seguiu o assunto.

Ele aproximou-se da esposa, envolveu-a por trás. Sílvia, cumprimentou-o. Ele retribuiu a saudação e beijando a esposa no rosto, disse-lhe baixinho:

–   Aconteça o que acontecer, aja naturalmente. Continue conversando.

Monique concordou.
Ele despediu-se de Sílvia e entrou. Ou pelo menos foi o que Sílvia, de onde estava, pôde perceber.

Protegido pela murada, Rodrigo sentado no chão, bem a frente da esposa, escalava-lhe as pernas com as mãos, erguendo na passagem, o tecido vaporoso do vestido florido.

Apesar de surpresa, Monique cumpriu a promessa e manteve a conversa fútil com Sílvia. Vez por outra porém, movida pela sensação causada pelas mãos atenciosas do marido à percorrer-lhe a carne, olhava-o discreta e docemente.

Há muito tempo, Rodrigo não tocava-a assim, de forma tão pouco ortodoxa. Com os anos, o sexo transformara-se em algo mecânico para eles, quase uma obrigação. Mas não naquele momento. Agora havia prazer. Um prazer quase adolescente.

Rodrigo subiu as mãos, até encontrar na cintura, as laterais da calcinha da mulher. Ele olhou para cima e viu os olhos da mulher pousados nos seus. Com um sorriso, trouxe para baixo a peça de lycra, que desceu delicada, enroscando-se por suas coxas até à seus pés.

Em silêncio forçado, a mulher sentia o marido percorrer-lhe a virilha, tocando levemente o tufo sedoso de pêlos negros bem aparados.

Alheia ao que ocorria, Sílvia prosseguia a conversa. Para Monique porém, as palavras da vizinha já não faziam o menor sentido. Haviam tornado-se um barulho incômodo; algo a ser desconsiderado.

Com a ponta dos dedos, Rodrigo acariciou a entrada da vulva da mulher, sentindo a carne debruada abrir, cedendo a pressão de seu toque.

Monique suspirou fundo quando sentiu suas metades serem abertas, para que a língua morna do marido pudesse penetrar-lhe a gruta encharcada. Uma onda de calor cresceu dentro dela, ao mesmo tempo que centenas de pequenas descargas elétricas percorriam-lhe o corpo.
As mãos de Rodrigo pousaram sobre as nádegas de Monique, trazendo-a para mais perto. A língua já não pertencia mais a ele. Movimentava-se por vontade própria, explorando os recantos mais íntimos da mulher, sentindo-lhe as texturas da carne rósea, avolumada pelo sangue quente e pelo suco que descia suave, cobrindo-lhe generosamente as paredes.

A respiração do marido explodia dentro dela; a barba nascente, arranhava-lhe as coxas; as unhas cravadas na carne tingiam de vermelho as generosas nádegas brancas.

Monique queimava.

Desejava parar de falar, parar de ouvir. Não conseguia, nem queria, concentrar-se em nada que não fosse o prazer que avolumava-se dentro nela.

Monique queria gozar. Monique precisava gozar.

Percebendo o desejo da mulher, Rodrigo intensificou os movimentos. Com a mão pousada sobre a cabeça do marido, Monique começou a rebolar esfregando-se de encontro a seu rosto. Os movimentos já não tinham qualquer tom de gentileza. Eram apenas corpos, perseguindo a todo custo, alívio para aquele anseio. Monique mal conseguia manter os olhos abertos. Era uma represa prestes a romper.

Sílvia não entendeu quando Monique curvou-se abruptamente, pela força do gozo. Perguntou se sentia algo.

Monique riu. Riu forte.

Sílvia havia dado-lhe a desculpa para liberar a felicidade que sentia. A seus pés o marido, ainda com o rosto colado a seu sexo, saboreava o que haviam acabado de fazer.

Daquele dia em diante, voltaram a ser mais do que marido e mulher. Voltaram a ser amantes.

2 comentários:

Lou Albergaria disse...

esse é meu velho e delicioso conhecido! maravilhoso conto!

Seu blog é um tesão louco! amei! do layout às palavras e imagens, vc é intenso!

parabéns pelo blog! e por sua arte!

Beijos!

serei assídua frequentadora daqui!...

Lu

Loboguará disse...

Oi menina da alma de cristal... não podia me dar presente melhor do que tua presença aqui... lambidas do lobo